Podemos compreendê-las
MONTEZUMA CRUZ
Amazônias até se parecem, mas não são únicas. Pobres, ricas, deslumbrantes, imponentes, exigem estudos de uma vida inteira. Nem o americano Teodore Roosevelt, o sábio francês Claude Lévi Strauss, ou o explorador britânico Percival Fawcett a conheceram. Strauss foi a Guajará-Mirim (RO) e Fawcett se perdeu na Serra do Roncador, sem ter chegado mais ao norte do País.
Emissários de Roosevelt alcançaram o Amazonas, Rondônia e Mato Grosso. Uma região situada entre esses dois estados, por exemplo, se tornou conhecida por Roosevelt, terra de ouro e diamantes.
Para início de conversa, Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa formam o que se entende por Amazônia, com 6,9 milhões km².
Daí, não haver “especialista em Amazônia”. Engana-se a si mesmo quem se arvora assim, ambicionando agarrar o mundo com tão poucos dedos.
Esse vasto continente implica um banco genético de eternos estudiosos e aprendizes, e eles conservam esse honroso banco a vida inteira.
Existem pessoas nascidas em Roraima, que nunca saíram de lá. Outras, acima do Paralelo 11 (nortão mato-grossense), viram surgir cidades cercadas por café, milharal e garimpo de ouro, no entanto, nunca viajaram de canoa, vapor ou de avião.
Emissários de Roosevelt alcançaram o Amazonas, Rondônia e Mato Grosso. Uma região situada entre esses dois estados, por exemplo, se tornou conhecida por Roosevelt, terra de ouro e diamantes.
Para início de conversa, Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa formam o que se entende por Amazônia, com 6,9 milhões km².
Daí, não haver “especialista em Amazônia”. Engana-se a si mesmo quem se arvora assim, ambicionando agarrar o mundo com tão poucos dedos.
Esse vasto continente implica um banco genético de eternos estudiosos e aprendizes, e eles conservam esse honroso banco a vida inteira.
Existem pessoas nascidas em Roraima, que nunca saíram de lá. Outras, acima do Paralelo 11 (nortão mato-grossense), viram surgir cidades cercadas por café, milharal e garimpo de ouro, no entanto, nunca viajaram de canoa, vapor ou de avião.
Kaiabi e Ava-canoeiro são dois povos indígenas capazes de ir e vir entre pontos distantes na floresta. Ali permaneceram felizes, só se tornando infelizes depois que o “progresso” chegou.
A maioria dos moradores do Oiapoque não sabe o local da nascente do Rio Madeira. Uns conhecem de cor os velhos varadouros de seringais acreanos, mas desconhecem as ilhas de Abaetetuba (PA) ou o Araguaia. Moram em Paraupebas (PA), mas não sabem exatamente onde fica Nova Mamoré (RO).
[Rio Madeira]
Outros fizeram compras na Zona Franca de Manaus, mas ignoram onde ficam as Ilhas Anavilhanas, ou a região da “Cabeça do Cachorro”, no Alto Rio Negro. Alguns visitaram parques nacionais, terras indígenas e reservas extrativistas diversas vezes, mas desconhecem os bairros das próprias capitais amazônicas. Muito menos que o rio Amazonas nasce no Peru.
Numa diversidade de conhecimentos, a própria Amazônia desconhece a Amazônia. E nós? Já estivemos, pelo menos, nas capitais e nas principais cidades de cada um dos nove estados?
Cientistas e jornalistas já visitaram diversos municípios amazônicos. Cada qual desconhece o lugar aonde o outro pôs os pés, sobrevoou ou navegou.
Interpretar e compreender as Amazônias é uma tarefa complexa. Alinham-se: Amazônia Continental (no Brasil e outros países da América do Sul), bacia do rio Amazonas, Amazônia Legal, bioma Amazônia e floresta Amazônica.
Confunde-se no Ensino Fundamental e até na Universidade o conceito de Estado do Amazonas e a Amazônia. E quando entendemos que existem várias Amazônias, os conceitos e temas se sobrepõem.
Ensina o geógrafo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Reinaldo Corrêa Costa: “Nem mesmo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sabe, com precisão, delimitar a área que cada uma das Amazônias ocupa”.
Nada faremos de excepcional. Este site dentro do site buscará dar ressonância a estudos divulgados em tantos sites-referência, oferecendo a sua parte no estudo de um continente que exige ser melhor compreendido.
Na medida do possível, publicaremos matérias produzidas nessas Amazônias, as quais abraçamos com um misto de amor, temor e deslumbramento.
Quem sabe possamos avaliar um pouco dos 3,8 milhões de km² da bacia do rio Amazonas, cobertos pela floresta. Prestando muita atenção nos demais tipos de vegetação, porque essa bacia também possui cerrado e campos.
A floresta amazônica existe no Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão. Até hoje não se sabe com certeza quanto da Amazônia é de floresta. Para o IBGE, a área é de 3,8 milhões de km², ou seja o total da bacia Amazônica. Estudos do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) revelam que a floresta cobre 64% da Amazônia Legal (3,3 milhões de km²). Antes do desmatamento, a cobertura original era de 73% da região.
Em quatro anos, o Exército Brasileiro mostrará o que vem fazendo na Cabeça do Cachorro, que foi escolhida como ponto de partida para um arrojado projeto de mapeamento. O apelido se deve à figura que lembra o pescoço, as orelhas, o focinho e a boca de um cachorro. Por suas artérias fluem as águas escuras do Rio Uaupés, do Rio Içana e do próprio Negro, conectados por uma infinidade de igarapés. Nos ombros, leva o Pico da Neblina, o ponto mais alto de Brasil, e sua pele é coberta por uma das florestas mais antigas e bem preservadas da Amazônia.
E o bioma Amazônia?
Segundo o IBGE, fica nesse time de nove estados e totaliza 4,2 milhões de km². São regiões com o mesmo clima, a mesma vegetação florestal e a mesma fauna. Esse conjunto de fatores cria condições biológicas específicas para a área. O bioma amazônico ocupa 49,29% do Brasil e é o maior bioma terrestre do País.
O segundo maior é o bioma cerrado, mas também se estende para os outros países.
E o que é Amazônia Legal?
Igualmente reúne esse time dos nove, somando 5,2 km². Trata-se de um conceito político criado pelo governo brasileiro em 1953, sob a justificativa de que havia problemas econômicos, políticos e sociais semelhantes nesses estados, mas a divisão não corresponde à geografia natural da Amazônia. No Tocantins, por exemplo, há áreas de cerrado.
Vamos passar o tempo todo, a vida toda dedicados à interpretação dessa bacia do rio Amazonas, que atravessa alguns países. Daí, a infinidade de conflitos, a luta pela soberania, o grito dos cientistas, dos institutos, das organizações, e das universidades.
Sim, porque há idéias, projetos políticos e socioeconômicos, comandos e desmandos sobre um continente de 6,5 milhões a 7,5 milhões de km², em grande parte mapeado no exterior. Na verdade, um patrimônio da humanidade.
Nos laboratórios de Manaus e Belém, os tubos de ensaios dos pesquisadores parecem repetir o samba: esquentai vossos pandeiros. Aparecem resultados surpreendentes de estudos da flora, do solo e do reino animal. Os 3,8 milhões de km² brasileiros estão aqui, desnudos. E ainda não dimensionamos exatamente o quanto sofre e o quanto se alegra o ser humano cá de dentro.
É preciso viver, e viver não é brincadeira não.
Cá estamos para aprender e não para ensinar aquilo que ainda pouco aprendemos.
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias